Pedagogia é antes de tudo a ciência de ensinar, especialmente
crianças e adolescentes. Na Grécia Antiga pedagogo
(gr. paida = criança; gogós = conduzir)
era o escravo que conduzia o filho de seu senhor para ser instruído, inclusive
carregando seus equipamentos, como instrumentos musicais etc. Nenhum sistema
pedagógico pode ser considerado como uma verdade única e absoluta, ou não
estaremos mais falando de uma filosofia, mas de uma tirania intelectual. O
maior erro do sistema pedagógico de Paulo Freire é que o seu método não foi
criado para o professor. No livro Pedagogia da Autonomia propõe um sistema que
anula a existência do mestre, como se fosse possível existir um sistema
educacional sem a existência de um professor. Numa linguagem rancorosa, chega
ao exagero de se referir ao professor de forma tão agressiva que antes de uma
análise crítica o método Paulo Freire merece uma psicanálise. Somente uma
pessoa que traga consigo traumas profundos de uma infância atormentada poderia
dedicar tanta energia numa vingança contra alguém que nada mais faz do que
mostrar aos neófitos a vastidão do universo científico.
Nenhum método de ensino desaprovado por uma imensa maioria de
professores pode ser imposto ao povo como uma verdade única e absoluta.
Como considerar eficiente um método que não consegue
demonstrar ao professor qual o seu propósito, nem consegue convencê-lo de sua
eficiência. A rigor, segundo o método rancoroso de Paulo Freire que
classificação receberia Sócrates, Aristóteles e tantos outros mestres até hoje
reverenciados pelas melhores instituições de ensino do mundo? Este método de ensino se aplicado em uma
escola russa ou chinesa que forme ginastas não produziria um único campeão
olímpico, pois não existe vencedor sem esforço, sacrifício e um mestre. Esta
dita, pedagogia do oprimido, ficaria mais bem qualificada se a denominássemos
de pedagogia dos fracassados ou pedagogia das falácias. Pois, uma legião de
fracassados é exatamente o quadro que este sistema tem produzido no Brasil e
covardemente se tem atribuído a culpa do insucesso ao professor. No mínimo os
dirigentes da educação brasileira deveriam ter a honradez de assumir a
responsabilidade pelo fracasso de suas opiniões anarquistas.
Paulo Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, perdeu o pai
aos 12 anos de idade e alega ter tido uma infância atormentada pela fome e pela
pobreza. Como estudante foi reprovado por quatro vezes, atribuindo à sua
condição social sua incapacidade de aprender. Acrescentando-se a este quadro o
rigor das escolas tradicionais de sua época que exigiam resultados dos alunos
independentemente de sua condição socioeconômica, fica evidente a origem da
mágoa que Paulo Freire nutriu por seus professores. Diante se sua adolescência supostamente
pobre fica fácil entender sua revolta contra professores insensíveis e
incapazes de compreender sua fome e lhe dar um ponto a mais por misericórdia.
Devo desconfiar de sua pobreza, pois os nordestinos pobres de sua época não
passavam nem perto de uma universidade.
Mas o que não podemos aceitar é que o homem Paulo Freire
tivesse continuado carregando consigo pela vida inteira a incapacidade de
compreender. A incapacidade de compreender que os problemas socioeconômicos de
sua infância têm como causa - e causadores - uma elite econômica e política que
até os dias de hoje controlam a distribuição de renda e pensamentos neste país.
Elite da qual o professor comum não faz parte, e se não é o
único combatente desta tradição brasileira, com certeza é o maior deles. Menos
tolerável ainda é que seus seguidores instiguem e perpetuem o ódio do “oprimido” contra quem simplesmente
exige do aluno que se desvincule da ignorância.
Intolerável é que o senhor Paulo Freire e seus seguidores
nunca tenham entendido que o próprio Paulo Freire foi conduzido de Pernambuco
às principais universidades europeias pelas mãos de um professor.
Pedagogia Da Autonomia
- Primeiras Palavras
Com um discurso repetitivo, muito mais disposto a convencer
pela insistência do que pela razão, Paulo Freire escreve clara e explicitamente
que seu discurso raivoso é antes de tudo um manifesto contra as injustiças de
nossa terra, um protesto assumidamente sem qualquer critério científico ou
racional. Uma manifestação insensata de ódio que se recusa a descobrir a sua
própria razão de ser. A escrita de Paulo Freire se equipara a fúria de um louco
na multidão que agride a todos sem saber o porquê, mas que vê no professor as
causas de todas as suas desgraças. Cegado pela indignação não consegue ver que
sua contribuição muito mais prejudica e agrava que ajuda a resolver a situação
que ele próprio gostaria de combater.
Em seu livro Pedagogia da Autonomia, ele literalmente abdica
da postura de observador imparcial e científico para dar vazão aos seus
sentimentos de rancor como se a cegueira da raiva, ainda que legítima, fosse
uma solução. Em seu desvario expele termos desconexos condenando uma filosofia
anarquista que ele próprio pratica. A malvadez neoliberal em nada difere da
malvadeza socialista. A verdadeira malvadez e injustiça estão no egoísmo
anarquista que ele mesmo tanto defende e condena. Embora atribua a si mesmo uma
postura ética, não há como negar sua ingratidão ao condenar injustamente uma
profissão que a vida toda lhe deu de comer, melhor seria que tivesse feito uma
psicanálise.
“Daí a crítica permanentemente presente em mim à malvadez neoliberal,
ao cinismo de sua ideologia fatalista e a sua recusa inflexível ao sonho e à
utopia.
Daí o tom de raiva, legítima raiva, que envolve o meu discurso quando
me refiro às injustiças a que são submetidos os esfarrapados do mundo. Daí o
meu nenhum interesse de, não importa que ordem, assumir um ar de
observador imparcial, objetivo, seguro, dos fatos e dos acontecimentos.
Em tempo algum pude ser um observador “acizentadamente” imparcial, o
que, porém, jamais me afastou de uma posição rigorosamente ética. Quem observa
o faz de um certo ponto de vista, o que não situa o observador em erro. O erro
na verdade não é ter um certo ponto de vista, mas absolutizá-la e desconhecer
que, mesmo do acerto de seu ponto de vista é possível que a razão ética nem
sempre esteja com ele.” _ Paulo Freire: Pedagogia da Autonomia
Autonomia (do Gr. auto-nomos: aquele que faz suas
próprias leis) é um conceito encontrado na filosofia, na medicina, na
moral, na política. Neste contexto refere-se à capacidade de um indivíduo
racional tomar decisões conscientemente e sem coações. Na moral, na política e
no direito, autonomia é o fundamento para se atribuir a alguém a
responsabilidade por seus atos. Na medicina é um importante princípio
deontológico onde a autonomia do paciente conflita com as responsabilidades
éticas do médico. O termo aplica-se a diversos campos da ciência, na robótica,
na indústria automotiva e em cada situação tem um significado particular, nem
sempre significando soberania absoluta, capacidade ilimitada e irrestrita de
autogerenciamento, pode significar uma relação entre o consumo de combustível e
a quantidade de quilômetros rodados por um veículo. Pode-se também empregar o
termo para se falar da autonomia de um Estado da Federação. Autonomia também pode se referir à capacidade
de autogerenciamento das pessoas, ou a quantidade, o tamanho, o limite de poder
de decisão que um funcionário tem no exercício de sua função. O significado de
uma palavra depende do contexto em que é empregada, da ideia que se quer
transmitir, portanto, engessá-la com uma definição única e universal é um
equívoco tão grande quanto deixar seu significado aberto, podendo significar o
que quer que se queira.
O termo autonomia
quando aplicado no contexto escolar, fazendo referência à autonomia da criança
e do adolescente deve ter seu significado analisado à luz das leis que regulam
o tema e das demais ciências que se ocupam de estudar a criança sob todos os
aspectos de seu desenvolvimento. Porém, jamais sem o olhar científico do qual
Paulo Freire e seus seguidores insistem em abdicar.
Juntos, o Código Civil, o Estatuto da Criança e do
Adolescente e a psicologia determinam limites a esta autonomia. À criança não é
lícito praticar todos os atos jurídicos que um adulto pode praticar. Como comprar bebida alcoólica, arma de fogo,
assinar contratos, hospedar-se em um hotel, comprar uma passagem de ônibus ou
mesmo ir ao teatro sem que preencha determinados requisitos como ter idade
suficiente e estar acompanhada por um adulto legalmente responsável por ela.
A grande contribuição da pedagogia da autonomia foi inferir
uma conclusão equivocada no meio estudantil induzindo ao erro de que a
autonomia da criança se equivalha a uma soberania da criança na sala de aula.
Onde cabe a ela decidir se quer ou não estudar. A lei ao determinar que o
ensino seja obrigatório, não diz que a presença física da criança na escola
seja obrigatória, mas sim que o aprendizado do Ensino Básico é obrigatório com
ou sem sua presença física no recinto da escola. O prédio da escola é apenas o
meio fornecido pelo governo para que se cumpra esta determinação legal por
aqueles que não disponham de outro modo de atender ao que dispõe a lei. Estão
livres de comparecer ao recinto escolar as crianças que se encontrem enfermas
nos hospitais, os indígenas e outros povos que em razão da convivência com
pessoas de cultura alienígena possam por a perder seus valores culturais,
religiosos e familiares. Mas mesmo estes não estão desobrigados de adquirir o
conhecimento mínimo que a lei obriga. Tendo que comparecer a uma unidade
escolar ou exigir que a escola envie até a criança alguém que possa testá-la e
conceder-lhe a certificação exigida por lei. Donde se conclui que não faz parte
da autonomia da criança decidir se quer ou não fazer suas lições. Mesmo a
psicologia e a medicina ao informarem que a criança não tem uma formação
completa, ressaltam que a criança não pode tomar decisões desta grandeza por
conta própria. Ainda a lei ao exigir do professor que garanta a qualidade do
aprendizado, sub-roga lhe o direito de exigir que o aluno cumpra com seus
deveres. Abstrai-se que a autonomia da criança é no máximo uma autonomia
relativa e não o autonomismo da concepção anarquista.
A indignação que molesta ao nosso ilustre pedagogo, também
nos corrompe as entranhas. Maltrata a todas as pessoas sensatas desta terra.
Mas ao homem de ciência, ao professor cabe por de lado sua revolta por um
instante e usar a razão para encontrar a solução que ponha fim aos nossos
dramas sem cometer o desatino de aumentar a injustiça. Ao homem de brio e
coragem compete não esmolar seus direitos nem fugir à luta ainda que armada
para defender sua gente, mas não lhe ajusta bem preferir culpar o mais fraco a
enfrentar o mais forte. A inteligência e a valentia derrubam muralhas, mas a
covardia e a lamentação somente perpetuam as misérias.
O grande mal da filosofia anarquista reside na mentira, na falácia
e na covardia. Está em não assumir frontalmente sua posição. Está em pregar uma
tese e praticar outra. Renegam a ética, mas falam em nome dela. Condenam a
moral, mas acenam ao povo com ela. E Paulo Freire não foge a regra. Os
anarquistas se dizem porta vozes do bem, mas se dedicam a desconstruir os
valores intocáveis da sociedade, inclusive o bem. Pior que perder numa luta
armada é perder neste embate intelectual. Permitindo que os anarquistas
transformem nossos valores morais em moralismo,
nossa pureza em puritanismo, nossa
masculinidade em machismo, nossas convicções em preconceito pervertendo a
ordem de tudo e tornando pejorativos todos os valores que antes considerávamos
sagrados, tornando a honra de ser um professor na vergonha de ser um mestre. A
grande missão de Paulo Freire se resume em denegrir ao máximo a imagem do
professor e destruir a educação neste país. Embora acene com a bandeira da
piedade e da defesa do oprimido, na verdade condena o povo brasileiro a uma
ignorância ainda pior do que a que tínhamos antes. Em suas dezenas de páginas
de falácias, sofismas e utopias não há uma única linha que possa ser comprovada
em laboratório. A única comprovação empírica de sua teoria é a de que ela não
funciona.
“Não é possível ao sujeito
ético viver sem estar permanentemente exposto á transgressão da ética. Uma de
nossas brigas na História, por isso mesmo, é exatamente esta: fazer tudo o que
possamos em favor da eticidade, sem cair no moralismo hipócrita, ao gosto
reconhecidamente farisaico. Mas, faz parte igualmente desta luta pela eticidade
recusar, com segurança, as críticas que vêem na defesa da ética, precisamente a
expressão daquele moralismo criticado. Em mim a defesa da ética jamais
significou sua distorção ou negação.” _ Paulo
Freire: Pedagogia da Autonomia
Não Há Docência Sem Discência
Com um texto prolixo e enfadonho, o autor tenta demonstrar a
partir de premissas hipotéticas que o improvável é possível, contestando toda a
história do conhecimento humano. O desenvolvimento científico da humanidade
nada mais é que o resultado do conjunto, do acúmulo de conhecimentos
adquiridos, aprimorados e transferidos de uma geração para outra desde que o
primeiro homem aprendeu a dominar o fogo e talvez antes disto. Renegar esta
herança “bancária” é insana ingratidão ao esforço de tantas mentes brilhantes
que dedicaram suas vidas a produzir este patrimônio que tem livrado tantas
vidas da fome, de doenças, do desemprego e da ignorância.
Se for verdade que em tudo há uma dualidade, se para cada
carga positiva houver outra negativa, também para o professor arrogante que
tudo sabe, se contrapõe o estudante arrogante que não reconhece a própria
ignorância, nem a sabedoria do mestre perpetuando o seu não saber.
Acreditar que o professor não é capaz de analisar e entender
a capacidade ou dificuldade de aprender que cada aluno tem é antes de tudo
subestimar a inteligência e a autonomia do educador, subestimar a sua
competência em gerenciar o aprendizado de cada estudante. Nenhum professor tem
uma fórmula única e universal aplicável a todo estudante, o professor é
inteligente o bastante para identificar e adaptar sua pedagogia a cada caso.
Para conhecer o histórico de cada estudante, sua vida pregressa, seus hábitos,
costumes e padrões de comportamentos para melhor adequar o método de ensino, o
professor não precisa abdicar de seu próprio histórico de vida e se igualar a
um neófito, prática na verdade, impossível de ser experimentada. O cientista ao
excluir hipoteticamente de sua mente as verdades conhecidas sobre um evento a
fim de tornar-se apto para novas descobertas sobre um fato não precisa abdicar
de todo o seu conhecimento científico e comportar-se como se de nada soubesse.
O professor ao estudar a melhor maneira de ensinar um
determinado aluno, não se torna um discípulo dele, assim como o astrônomo que
estuda uma estrela não se torna um astro. A relação dinâmica entre professor e
discípulo não se altera, a força que impulsiona a criatividade do aluno e
amplia seu campo de conhecimento ainda parte do professor.
O conceito “freiriano” de que o aprendiz se torna o mestre de
seu professor e de que o professor é o aprendiz de seu próprio discípulo não
tem fundamento científico e é um desserviço à educação brasileira. Serve apenas
para exaltar a arrogância dos ignorantes e dos preguiçosos que acreditam que
nada mais têm para aprender ou ensinar.
Se antes o professor errava ao não demonstrar a utilidade
prática do conhecimento, como ferramenta de uso diário, Paulo Freire e seus
seguidores erram ao tentar demonstrar a inutilidade do conhecimento, uma
reverência ao niilismo que tem causado danos irreparáveis à sociedade.
“Se, na experiência de minha formação, que deve
ser permanente, começo por aceitar que o formador
é o sujeito em
relação a quem me considero o objeto,
que ele é o
sujeito que me forma e eu, o objeto por ele formado, me considero como um
paciente que recebe os conhecimentos-conteúdos- acumulados pelo sujeito que
sabe e que são a mim transferidos. Nesta forma de compreender e de viver o
processo formador, eu, objeto agora, terei a possibilidade, amanhã, de me
tornar o falso sujeito da “formação” do futuro objeto de meu ato formador.” _ Paulo Freire: Pedagogia da Autonomia
Ensinar
Exige Rigorosidade Metódica
Paulo Freire se assume um filósofo político de pensamento
ingênuo e simplista diante de um drama complexo e arguto. O Brasil é um país
medieval construído com blocos de ilusão e cercado por uma muralha de mentiras
que se estende até nós desde o início do povoamento desta terra. E para desvendar
as tramas de nossa história um pensamento simplista e ingênuo não basta. A indignação de nosso revoltado pedagogo é
justa, mas sua argumentação não é justa nem correta. Para compreender o sistema
educacional e o método de ensino aplicado no Brasil temos que voltar ao tempo
dos avós de nossas bisavós e compreender o sistema de dominação política
implantado em nossa terra.
E para iniciar nossa meditação basta lembrar que a revolução
industrial oficialmente ocorrida no século XVIII somente chegou ao Brasil no
século XX. Que no Brasil a primeira universidade surgiu somente quando na
Europa já se haviam abandonado a força dos cavalos pelos cavalos de força, já
se falavam em direitos trabalhistas, movimento feminista e se discutia o
trabalho infantil. Por que razão as Luzes do Iluminismo demoraram tanto para
cruzar o atlântico?
As razões do exílio do nosso intelecto, da blindagem de nossa
capacidade cognitiva vão além de um
isolamento cultural e geográfico. Estamos a mais de meio século de
distância do mundo moderno e civilizado, mas somos incapazes de ver esta
realidade, pois não conseguimos até hoje romper a muralha de ilusão e mentira
que embora nos cerque, está dentro de cada um de nós. Temos uma cegueira ora
sustentada pela escuridão, ora alimentada pelo excesso das tardias luzes
iluministas. Desde a expulsão dos Jesuítas, a educação brasileira esteve sob o
controle da aristocracia anarquista que hoje critica o sistema de educação que
eles próprios impuseram.
O ensino no Brasil nunca teve a preocupação de desenvolver a
percepção cognitiva das pessoas, a perspicácia, ou aprimorar a faculdade pela
qual as impressões recebidas pelos sentidos se tornam inteligíveis. Nunca teve
a preocupação de aperfeiçoar a capacidade de resolver situações problemáticas
novas mediante a reestruturação dos dados perceptivos. Muito menos teve o
interesse de demonstrar ao aluno a verdadeira função do conhecimento que é de
criar e modificar o ambiente ao seu redor em todos os seus aspectos.
Jamais foi dito ao estudante brasileiro que os conhecimentos
por ele adquiridos são simples ferramentas, como um martelo e um formão
destinados a cunhar novos rumos em nossa história e em nossas vidas.
Ferramentas a serem manipuladas pela imaginação na criação de novas ideias,
novas políticas, novas invenções e novas riquezas, uma nova estrutura social.
Até nos dias de hoje a lei brasileira deixa claro que o único
papel da educação é fornecer o conhecimento mínimo para que o trabalhador possa
executar sua função e nada mais. Os currículos das escolas e das universidades
brasileiras são elaborados para atender às necessidades de mão de obra da
empresa mais próxima e não aos interesses nacionais, da sociedade ou do
cidadão.
Antes da industrialização as regiões agrícolas e pecuárias
nem mesmo escolas tinham, exatamente, por não haver a necessidade de que o
trabalhador braçal sequer soubesse ler. E ainda hoje a mesma situação ocorre em
muitas regiões distantes do país. O Brasil é um país oligárquico, controlado
por uma minoria de pessoas que vê na difusão do conhecimento o risco de perder
o monopólio do poder e das riquezas da nação. Atitude típica das pessoas que
reconhecem ter uma inteligência limitada e temem a concorrência dos que são
mais competentes.
Infelizmente nossos dirigentes não têm conhecimento, eles detêm
o conhecimento. Quem tem conhecimento não procura emprego, emprega o que sabe.
E esta é a ameaça mais temida por aqueles que só sabem sobreviver num mercado
cercado pelo protecionismo e por monopólios familiares. Um estudante bem
instruído pode iniciar sua própria indústria, ter seu próprio banco, um canal
de televisão melhor, seu próprio jornal, ou tornar-se um líder político bem
sucedido. Almejar os cargos vitalícios e privativos de algumas classes e
tornar-se uma ameaça ao monopólio do poder privado das famílias que governam
este país por séculos a fio.
Alguém que saiba o verdadeiro significado metafísico dos
radicais greco-latinos que nos governam pode começar a contestar a validade das
leis medievais que nos limitam. Ou mesmo recusar a validade de uma eleição
eletrônica que não dá recibo. Que identifica e relaciona o eleitor ao voto.
A ilusão tem sido a ferramenta utilizada para perpetuar o
exílio da intelecção brasileira. Sem saber do que se passa do outro lado da
fronteira, o povo brasileiro ao longo de sua história tem tido como única fonte
de formação de suas convicções o que lhe é transmitido pelas elites dominantes,
que lhe sonegam alguns fatos e deturpam outros induzindo o povo a ter opiniões
definitivas sobre fatos que empiricamente desconhece. Em geral exaltando a
grandeza e superioridade da nação brasileira, nação que de tudo tem e de nada
precisa.
O brasileiro aprende desde pequeno a ter orgulho de ter ou
ser o maior do mundo e isto basta. Ter o maior rebanho do mundo, a maior
produção agrícola do mundo, o maior rio do mundo, a maior jazida do mundo, ter
a maior hidrelétrica do mundo lhe satisfaz o ego. Um país onde não tem guerras,
terremotos, vulcões, onde em se plantando tudo dá. Que tem o melhor povo do
mundo. Sua grandeza é tamanha que nem se lembram da fome, da miséria, que não
têm casa, terra, emprego, renda, hospitais, estradas, escolas e de que nada têm
em troca dos impostos que pagam. A grandeza do povo é tanta que vivem
penalizados com o padecimento de suíços, americanos, ingleses, canadenses que
não têm a mesma sorte que o povo brasileiro tem por ter uma terra tão rica.
Embora nunca tenham saído daqui têm a certeza de que nenhum
país do mundo é melhor e mais bonito que o nosso. O povo brasileiro critica a frieza
que ele acha que os americanos têm e se ilude com a crença de ser um povo
pacífico, caloroso, amoroso, amável, sem nunca enxergar o quanto é rude,
violento e insensível. O sangue jorra ao seu redor e ele não vê. A fome está do
outro lado da janela e ele não sente. Amar é uma atitude substantiva, não um
verbo que o vento leva.
Na maioria dos principais países do mundo existem colônias
antigas de imigrantes de diversas partes do mundo, mas as colônias de
brasileiros nestes países além de muito pequenas são recém-formadas. O êxodo de
brasileiros para além de nossas fronteiras teve início nos anos 80, portanto
nossa fonte de informações confiáveis ainda é pequena, recente e
desorganizada.
Óbvio está que não interessa ao governo brasileiro que o povo
aprenda a questionar por que o dinheiro do povo financia a custo zero uma
produção de alimentos que não vai parar na mesa do povo brasileiro, ou por que
pagamos preços tão altos por serviços essências construídos com o dinheiro
público, dentre as tantas indagações que um povo escolarizado faria.
Claro está que a péssima qualidade do ensino no Brasil, ainda
hoje atende a interesses muito maiores do que aqueles que podemos discorrer em
uma análise simples e curta.
Ao professor compete elucidar estas causas e encontrar as
soluções possíveis. Ante a complexidade das razões que degeneram a educação em
nosso país torna-se inconcebível que o professor abdique de seu posto de
comandante na sala de aula e da transformação que o país precisa.